Descobrir novas fontes de energia renovável é um desafio para cientistas de todo mundo. Vários institutos de pesquisa do Brasil e do mundo estão à procura de uma planta com maior eficiência energética que possa ser usada na produção do biodiesel. E uma das alternativas mais promissoras é o pinhão-manso, que está sendo estudado por cientistas do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais e Jardim Botânico do Instituto Agronômico (IAC).
“Há uma corrida saudável entre os institutos de pesquisa para ver quem vai desenvolver o pinhão-manso”, conta o pesquisador Walter José Siqueira, responsável pela área de melhoramento genético do IAC. A coordenadora Daniela de Argolo Marques conta que o objetivo do projeto é desenvolver uma planta que seja uma opção viável às commodities de soja, amendoim, girassol e mamona, de onde são extraídos o óleo hoje.
Segundo os cientistas, o pinhão-manso tem um teor de óleo muito alto. “Ele rende de 1,3 mil a 3,2 mil quilos de óleo por hectare. Em rendimento, ele perde apenas para o dendê e macaúba. Além disso, o óleo tem características físicas e químicas de excelente qualidade para o biodiesel”, diz Daniela. Outra vantagem da planta é o fato de ela não competir com a produção de alimento, como a soja e o amendoim.
O óleo é extraído da semente e a planta é tóxica, contém esteres de forbol, mas a maior parte das toxinas, com exceção do forbol, é liberada durante o processo de extração feito com altas temperaturas. “Queremos desenvolver uma cultivar atóxica para que o resíduo (restos do fruto e semente) do processo de extração do óleo seja usado na produção de ração animal. “Esse resíduo tem alto teor protéico”, observa Daniela. Com a possibilidade de aproveitamento do resíduo, o pinhão passa a ser uma alternativa ainda mais viável.
O Instituto Agronômico desenvolve duas linhas de pesquisa, uma patrocinada pela Petrobras e outra pela empresa Vigna Brasil, para emplacar o uso do pinhão na produção do biodiesel. “É bom enfatizar que não existe uma variedade ou cultivar de pinhão-manso para o agronegócio brasileiro. O que se tem são sementes coletadas de árvores ou de população de plantas, sem controle dos pais e certificação de qualidade”, explicou Siqueira.
O objetivo dos cientistas é desenvolver, por meio de melhoramento genético, uma planta com menor porte, atóxica e com uniformidade da produção dos frutos. “Nós queremos mudar o paradigma da planta”, resume Siqueira.
Demanda por biodiesel vai crescer
A demanda por novas alternativas em biodiesel deve crescer nos próximos anos. Segundo os pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), essa demanda se deve principalmente por causa do aumento da porcentagem da mistura de biodiesel ao diesel de petróleo para 5% a partir deste mês. “Cinquenta e quatro porcento do combustível usado no Brasil provém de fontes não renováveis, como petróleo e gás natural. E 12,9% provêm de energia renovável, como as hidrelétricas e 3,2% vêm do biodiesel”, comenta a pesquisadora Daniela de Argolo Marques. No mundo todo, 87% do combustível utilizado vem de fontes não renováveis. “O Brasil está na frente por causa da sua biodiversidade”, observa a pesquisadora. O Brasil produz competitivamente biocombustíveis há algum tempo aproveitando-se da abundância de recursos naturais, humanos e da eficiente tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores e técnicos”, diz. Segundo ela, a produção baseia-se no etanol (15,9%) e no biodisesel de plantas oleaginosas (3,2%). (PA/AAN)
Na mira dos cientistas
Antes de fazer a manipulação genética das plantas, os pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC) estudam uma série de vegetais diferentes. Eles têm em laboratórios, viveiros e em plantações na sua sede centenas de plantas. “Ao todo são mais de mil. É um trabalho de garimpagem, procuramos as características que queremos nas plantas”, diz o pesquisador Walter José Siqueira. (PA/AAN)
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