segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Estratégia para o controle de doenças e pragas no cultivo do pinhão manso


Falamos em artigos anteriores sobre a relação que existe entre uma planta de pinhão manso bem nutrida e sua resistência às pragas e doenças. 
A planta é um ser vivo composto de células e é no interior das células que acontecem os mais diversos tipos de reações químicas com finalidade de atender suas necessidades fisiológicas (manutenção da vida - energia, defesa, etc - e perpetuação da espécie - reprodução/semente). A célula (animal ou vegetal) é uma espécie de laboratório, onde todas as reações químicas e físicas acontecem. 
No interior de uma planta, semelhante ao ocorre com o ser humano, acontecem diversos tipos de reação química ou física diferentes para o atendimento dessas necessidades fisiológicas e, numa linguagem simplista, o que diferencia uma espécie vegetal da outra é o tipo de caminho que ela usa para produzir cada uma dessas reações químicas. Esses caminhos são chamados de rotas metabólicas. 
Para que uma rota metabólica seja completa é necessário que todos os elementos essenciais (nutrientes, água, energia, catalizadores - enzimas, vitaminas, etc) estejam presentes e na sua quantidade exata. Sabemos que na natureza (solo) esses elementos essenciais nem sempre estão presentes ou são insuficientes. 
Acontece que a natureza é sábia e as plantas (em sua maioria) são capazes de se adaptar e usar outros caminhos metabólicos (reações bioquímicas alternativas) para atender suas diferente necessidades fisiológicas (função de manter a vida e perpetuar sua espécie) mesmo que para isso ela tenha que sacrificar algumas de suas funções principais. 
Vamos a um exemplo simples. Consideremos que determinado solo dispõe de nutrientes em quantidade mínima; suficientes apenas para manter a vida da planta. Neste caso, não há nutrientes suficientes para a defesa ou a reprodução da planta (resistência a pragas e doenças e produção de sementes). Daí ela a planta sacrifica as outras funções priorizando a vida; esperando que dias melhores lhe ofereçam condições favoráveis. Assim esse vegetal estará propenso ao ataque de pragas e doenças ou não vai gerar sementes (reprodução). As reações químicas no interior da planta são mais complexas, mas em resumo é isso que acontece. Por isso, os técnicos orientam que o solo deve ser fértil ou fertilizado com macronutrientes e micronutrientes de acordo com a exigência nutricional da planta. Oferecer mais alimentos (nutrientes) que o necessário é jogar dinheiro fora e não oferecer algum dos micronutrientes essenciais à planta é impedir que ela atenda a todas as suas necessidades básicas. Como dissemos acima a rota metabólica só será completa se todos os elementos estiverem presentes - tipo uma engrenagem, a ausência de uma peça faz parar a máquina. 
Numa comparação com os animais, um processo semelhante acontece. Vamos citar um exemplo utilizando-nos de uma linguagem bem simples: Uma pessoa com uma dieta pobre em vitamina C fica sensível a gripes e resfriados – baixa resistência à doença. Assim que sua dieta se normalizar, ou seja, contiver quantidades suficientes de vitamina C, recupera sua resistência. 


Veja o que dizem os especialistas no assunto 
“Os elementos químicos Ferro (Fe), Manganês (Mn), Cobre (Cu), boro (B), molebidênio (Mo), Níquel (Ni), Cloro (Cl) e Zinco (Zn), entre outros, são micronutrientes essenciais para manter as funções fisiológicas das plantas. Esses elementos são requeridos pelas plantas em concentrações muito baixas para seu adequado crescimento e reprodução. Entretanto, apesar de suas baixas concentrações dentro dos tecidos e dos órgãos das plantas, esses micronutrientes têm a mesma importância dos macronutrientes (Nitrogênio, Fosfato e Potássio – NPK) para a nutrição delas. Nessas baixas concentrações, os micronutrientes são fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento das plantas, agindo como constituintes das paredes celulares (B) e das membranas celulares (B e Zn), como constituintes de enzimas (Fe, Mn, Cu, Ni), como ativadores/catalisadores de enzimas (Mn, Zn) e na fotossíntese (Fe, Cu, Mn, Cl). Nós especialistas em plantas, temos demonstrado a importância dos micronutrientes para a produção de frutos, sementes/grãos nas culturas. O teor inadequado de micronutrientes numa cultura/plantação, que pode passar despercebido pelo agricultor, e eles não só tem efeito direto sobre o seu desenvolvimento, como também reduz a eficiência dos fertilizantes aplicado nela, contendo macronutrientes. Além disso, os micronutrientes (Cu, Mn, Zn, B) estão particularmente envolvidos na fase reprodutiva do crescimento das plantas (multiplicação das células da planta) e consequentemente, na determinação da produtividade e da qualidade do produto colhido. Eles também conferem resistência (Mn, Zn, Mo) contra estresses bióticos e abióticos, incluindo pragas e doenças. Além do mais, esses mesmos micronutrientes são fundamentais para a saúde do ecossistema do solo e das culturas. 
Em suma, as plantas cultivadas requerem teores ótimos de micronutrientes para que possam cumprir suas funções específicas na formação da produção, na qualidade do produto e na resistência aos agentes externos (inclusive pragas e doenças).”
Como é que a planta se defende das pragas e doenças (insetos, bactérias, fungos, vírus e etc)? 

Segundo os estudiosos no assunto, uma planta cultivada só será atacada por um inseto, ácaro ou por microrganismos (bactéria, fungos e vírus) quando ela contiver na sua seiva exatamente o alimento que eles precisam. A seiva neste caso será formada principalmente por aminoácidos, substâncias simples e solúveis de fácil digestão para esses insetos ou microrganismos.
Uma planta que se encontra num ambiente equilibrado, adaptada ao lugar onde vive, em solo, contendo umidade, bem como quantidade e qualidade de nutrientes suficientes, consegue fabricar, através do seu metabolismo interno e fotossíntese, substâncias complexas como proteínas, açúcares menos solúveis e vitaminas. Os insetos e microrganismos não possuem aparelho digestivo preparado para dissolver essas substâncias complexas; nessas condições dificilmente eles vão atacar as plantas 

Como os microrganismos patogênicos (bactérias, vírus e fungos) entram nas plantas e provocam doenças? 

Funciona mais ou menos assim; quem leva os microrganismos patogênicos até as plantas são os próprios pequenos seres (ácaros, abelhas, percevejos, formigas e outros insetos), atraídos pela oferta de açúcar solúvel da seiva de uma planta mal nutrida. 
Vamos a um exemplo clássico em humanos: A “dengue” é uma doença provocada por um vírus é esse vírus é transmitido ao homem por um mosquito (Aedes Aegypti). O vírus vive dentro do mosquito sem provocar doença nele. Quando o mosquito vai sugar o sangue do humano, ele injeta (vomita) uma substância dentro do corpo para facilitar a sucção, daí o vírus vai junto nessa substância. Ele se instala e provoca a doença no corpo “picado”. O vírus usa o sangue humano para se reproduzir milhões de vezes, ou seja, é que nosso sangue possui as substâncias essenciais para o vírus se multiplicar. Mas as reações químicas do vírus, para se reproduzir, gera um tipo de resíduo (toxinas) que é fatal para o corpo humano. 
Nas plantas não é muito diferente. Quem carrega as bactérias, vírus e fungos às plantas são os ácaros, abelhas, formigas, percevejos e outros insetos. Quando o inseto, encontra na seiva da planta açúcar solúvel (que seu organismo está adaptado para digerir), ele vai sugar essa seiva. Daí ele injeta uma substância na planta para facilitar a sucção. Neste momento, o microrganismo patogênico, presente no inseto, vai junto. Entretanto, se esse microrganismo não encontrar, dentro da planta, substâncias essenciais à vida; ele morre. E as substância essenciais ao desenvolvimento desses microrganismos são as substâncias simples (moléculas de cadeia curta) que citamos anteriormente. 

O melhor remédio é a prevenção. 

O agricultor deve ficar alerta a essa dica pois prevenir, no geral, é muito mais barato do que combater a doença instalada. Uma vez instalada a doença, o rendimento da planta será comprometido - baixa produtividade. 

Como prevenir as plantas 

Basicamente os passos são: faz-se a análise do solo e identifica os nutrientes e suas quantidades. Depois, com a informação sobre a exigência nutricional da planta, fornecer a ela o fertilizante na dosagem recomendada. A consulta técnica para essa etapa é fundamental. 
É importante observar que cada planta tem uma exigência nutricional para cada um dos diferentes estágios de crescimento, desenvolvimento e frutificação. 
A recomendação para a prevenção numa esfera mais abrangente é a aplicação de biofertilizante, uma vez que o uso dos adubos químicos pode reduzir a resistência da planta, no logo tempo. 

Teoria da Trofobiose 

Existe uma teoria que explica de forma muito clara como funciona essa relação entre a nutrição e a defesa da planta. Inclusive, essa teoria é base para a agricultura orgânica. 
No próximo artigo vamos tratar da teoria da trofobiose que pode ser uma alternativa para redução dos custos com adubo e defensivos no cultivo do pinhão manso. 

Fontes consultadas: Alves, S.B. Controle Microbiano de Insetos. 2. ed., Piracicaba(1.998) / Alves, S.B.; Tamai, M. A.; Lopes, R.B.; Alves Jr, S.B. Citricultura Sustentável: controle alternativo de pragas e doenças. Limeira: agroecológica (1.999)

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