Os pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) transformaram o pinhão-manso, árvore de amêndoas que normalmente atinge 3,5 metros de altura, em uma planta com tamanho comparado ao de um pé de soja. A façanha paulista promete facilitar o uso de máquinas na colheita do pinhão, que tem alta concentração de óleo para produção de biodiesel.
Nesse estudo, o IAC ganhou pontos na corrida para viabilizar o cultivo em escala investigando parentes selvagens do pinhão-manso. Os pesquisadores introduziram na árvore de amêndoas características de uma variedade anã. O pinhão-manso anão é como um bonsai. Os primeiros exemplares, plantados em vasos, começam a florescer e dão frutos com pouco mais de meio metro de altura.
O pesquisador do IAC Carlos Colombo mostra cacho de pinhão-manso tradicional
A importância da pesquisa é medida pelo rendimento de óleo da cultura. Enquanto a soja – principal matéria prima da indústria de biodiesel no Brasil, base de 80% da produção – oferece cerca de 600 quilos de óleo por hectare, o pinhão-manso rende 2,5 mil quilos na mesma área, compara o pesquisador Carlos Colombo, do IAC. Menos de 10% do biodiesel brasileiro é produzido com alternativas vegetais, incluindo mamona e algodão. Os demais 12% saem do sebo bovino.
O pesquisador Walter Siqueira explica que ainda há um longo caminho pela frente antes da produção de pinhão-manso anão em escala. A experiência que mudou o tamanho da planta, no entanto, é considerada “uma demonstração do quanto é possível avançar”. Ainda é preciso investigar, por exemplo, qual o rendimento das novas árvores, seu ciclo de produção, a concentração de óleo nas sementes, a concentração de substâncias tóxicas.
Nas pesquisas realizadas nos últimos anos, o rendimento de óleo variou de 1,3 mil a 3,2 mil quilos por hectare, abaixo apenas dos resultados do dendê e da macaúba. A qualidade do biodiesel de pinhão-manso é considerada excelente pelos técnicos. A busca por novas fontes está relacionada ao consumo cada vez maior. O Brasil adota atualmente a proporção de 5% de biodiesel no diesel, o que exige a produção de 2,5 bilhões de litros ao ano.
Com o estudo sobre pinhão-manso, os pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tentam tomar a dianteira na avaliação da cultura como fonte de energia. A instituição informa que procura se envolver nos desafios do setor agrícola para apresentar tecnologias que viabilizem a produção e abram caminho para a liderança brasileira em agroenergia e alimentos. A evolução dos sistemas produtivos tem exigido a diversificação e a ampliação do número de trabalhos. Atualmente, há 470 projetos em andamento, que envolvem 192 pesquisadores, 80% deles doutores. O diretor-geral do IAC, Marco Antônio Zullo, conta que a instituição tem atuado em parceria com organizações públicas e privadas, que também mostram-se atarefadas pela pressão por redução de custo, aumento de produtividade e por novas soluções e alternativas de cultivo. “A missão desse país é agrícola. Quem dominar o processo de produção de alimentos vai ser o país mais importante do mundo”, afirma Guilherme Guimarães, gerente de Regulamentação Federal da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que reúne indústrias de defensivos.
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