sexta-feira, 11 de maio de 2012

Em que cenário o cultivo do pinhão manso pode ser viável?


Neste artigo vamos abordar um conjunto de condições que, se colocadas num mesmo cenário, podem viabilizar o cultivo do pinhão manso: mesmo no estágio atual de domesticação da cultura.
Para tanto, faremos algumas abordagens relacionadas ao tema, dentre elas, a apresentação resumida de uma planilha de custo e uma rápida análise financeira para o cultivo de pinhão manso, baseado na experiência da empresa BIOGUR na região de Tucuruí, Estado do Pará- Brasil.
É sabido que para calcular o custo de produção de uma cultura vários fatores estão envolvidos, dentre eles: estado atual de uso e aproveitamento da terra; condições agroclimáticas do local; pH, fertilidade e estrutura do solo; comportamento da espécie cultivada e destino da produção; tecnologia aplicada ao manejo do solo e da cultura; logística de insumos; e até mesmo o rateio de custos pela permissividade do consórcio com outras culturas.
O objetivo deste artigo é apresentar, a título de referência, um resumo de uma planilha de custo para plantio de 1 hectare de pinhão manso que foi conduzido da seguinte forma: o cultivo foi desenvolvido na região de Tucuruí, Estado do Pará – Brasil pela emprega BIOGUR; o início do plantio ocorreu em janeiro de 2009; o estado atual da terra era uma área antropizada a mais de 20 anos com cobertura do solo formada de pastagem cansada; a topografia da área é ondulada; o tipo do solo é latossolo vermelho-argiloso apresentando boa drenagem; o adensamento adotado no cultivo foi de 3 x 2 m; e a mão de obra utilizada foi predominantemente braçal, uma vez que a intenção do projeto era fornecer um referencial para agricultura familiar objetivando futura inclusão destes no processo de produção do pinhão manso. Foi utilizado a mecanização somente nas etapas exigidas com vistas a agilizar e otimizar o serviço,.
Observação: os dados da planilha foram atualizados para o ano de 2011.
É importante frisar que o clima da região de Tucuruí favorece o crescimento e o desenvolvimento acelerado do pinhão manso, e neste caso a estabilização da lavoura/pomar se deu a partir do 3º ano após o plantio. Assim sendo a planilha contempla as seguintes fases: plantio ou implantação (1º ano); formação da lavoura/pomar (2º ano); e produção (3º ano).
Os dados foram copilados e divididos nas seguintes atividades: operações de manejo; insumos e materiais aplicados; e custos administrativos.
Segue abaixo o resumo da planilha
Descrição dos custos para o 1º ano em (R$/hectare) - Implantação
- Custos das operações de manejo – R$  872,25;
(a mão de obra braçal representou 17,45% dos custos desta etapa)
- Custos dos insumos e materiais aplicados – R$ 994,00; e
- Custos administrativos (inclui assistência técnica) – R$ 38,27
Custos totais para 1º ano = R$ 1.904,52

Descrição dos custos para o 2º ano em (R$/hectare) - Formação
- Custos das operações de manejo – R$  560,00;
(a mão de obra braçal representou 100% dos custos desta etapa)
- Custos dos insumos e materiais aplicados – R$ 526,00; e
- Custos administrativos (inclui assistência técnica) – R$ 47,06
Custos totais para 2º ano = R$ 1.133,06

Descrição dos custos para o 3º ano em (R$/hectare) - Produção
- Custos das operações de manejo – R$  805,00;
(a mão de obra braçal representou 100% dos custos desta etapa - colheita representou 39,13% dos custos)
- Custos dos insumos e materiais aplicados – R$ 759,00 (o fertilizante representou 71,15% dos custos); e
- Custos administrativos (inclui assistência técnica) – R$ 78,53 (o INSS representou 60,17% dos custos)
Custos totais para 3º ano = R$ 1.642,53

Rápida Análise Financeira
A produção no 3º ano de cultivo atingiu 5.096 kg/hectare (extra oficial), considerando que a lavoura/pomar produzirá ao longo prazo a mesma quantidade de grãos e que o valor de mercado pago pelo grão no Brasil se mantenha em R$ 0,42/kg (fonte: empresa NÒVRABRA – Colatina-ES em 2011), temos uma receita anual de R$ 2.140,62/hectare, a partir do 3º ano. Assim a lucratividade é de 23,26%, considerada muito baixa para uma atividade de produção agrícola.
Porque o pinhão manso então?
Se considerarmos:
- certas variáveis relacionadas à realidade da agricultura familiar da Região de Tucuruí; 
- algumas características peculiares do pinhão manso; às condições agroclimáticas da região; e associados a outros aspectos, nestas condições, o cultivo do pinhão manso pode transformar-se numa excelente oportunidade para complemento e diversificação da renda familiar com abertura de novas perspectivas para melhoria da qualidade de vida e fixação desses agricultores no campo.
Abaixo enumeramos dois aspectos centrais e certas considerações que nos auxiliarão a entender melhor a afirmação em evidência acima, a saber:
1º Aspecto: realidade sócio-ambiental atual do agricultor inserido nesse contexto
Considerando que:
- os cultivos serão implantados nas pequenas propriedades e desenvolvidos pelos agricultores familiares da Região;
- serão cultivados somente em áreas desmatadas de suas propriedades que apresentam solo em processo de degradação;
-  esses agricultores e suas famílias estão hoje sem opções de renda e com dificuldade de produzir e escoar a produção;
- a renda per capta mensal destas famílias é inferior a R$ 200,00 e que a mesma é insuficiente para oferecer condições dignas de vida e assegurar a fixação no campo;
- a mão de obra familiar está ociosa;
- as atividades produtivas são limitadas, de baixa qualidade e produtividade, e de subsistência - situação que compromete a segurança alimentar, não gera sobras de produção e, consequentemente, não permite a ascensão social e, tão pouco, perspectivas de melhoras futuras para as gerações vindouras;
- os programas de assistência técnica (disponibilizados pelo governo federal) são incapazes e/ou insuficientes para atender as demandas dos agricultores;  
- a baixa qualidade e volume de produção aliado à falta de infraestrutura de armazenagem, impede a formação de reservas de grãos alimentares impossibilitando o agricultor de manter o hábito cultural de criação de pequenos animais na sua propriedade, comprometendo a fonte proteica da alimentação familiar;
- as poucas atividades produtivas são desenvolvidas com uso de técnicas agrícolas rudimentares, ultrapassadas e contrárias à conservação do solo;
- além de outros fatores de ordem política, estrutural, fundiária, transporte, saúde e segurança, organizacional, e com destaque para a exploração escravagistas e castradoras que esses agricultores sofrem de suas “pseudolideranças lideranças representativas” (algumas federações, sindicatos e presidentes de associações a eles ligados).
2º Aspecto: características da planta, seus pontos fortes, características da região e  perspectivas futuras para o produtor e de mercado para o pinhão manso
Considerando que:
- algumas características agronômicas do pinhão manso (silvestre) que o habilita para cultivo destinado ao agricultor familiar da região, tais como: planta recuperação do solo (pioneira), colheita manual, fácil manejo relativo, cultura não alimentar; boa produtividade para o clima da região, colheita anual contínua (até 8 meses no ano) pela frutificação irregular, e permissão de consorciar com culturas alimentares, entre outras;
 - a possibilidade de reduzir os custos com fertilizante pelo emprego da torta do pinhão manso – rica em NPK;
- a possibilidade de melhorar a qualidade do solo;
- a possibilidade de complementar e diversificar a renda do agricultor;
- a possibilidade de assegurar ao agricultor da região renda complementar durante 8 meses do ano (colheita do pinhão manso); e
- o aumento da produção e produtividade tanto do pinhão manso como das culturas alimentares pela transferência de tecnologia ao agricultor e adoção do manejo agrícola adequado;
- as pesquisas direcionam para o desenvolvimento de cultivares de pinhão manso de alto rendimento, resultado em maior agregação de renda ao produtor;
- o cultivo do pinhão manso pode otimizar as áreas de produção na propriedade e a mão de obra familiar;
- o cultivo do pinhão manso pode abrir caminho para o escoamento da produção excedente de outras atividades desenvolvidas na propriedade pela estruturação de uma rede de transporte da produção desta oleaginosa; e
- por fim, considerando que uma família de agricultor familiar composta de 04 integrantes pode cultivar mais de 10 hectares de pinhão manso, consorciados com culturas sazonais, sem comprometer outras atividades desenvolvidas na sua propriedade.
Diante do exposto, podemos afirmar que somente com o cultivo de 05 hectares de pinhão manso, o agricultor poderá agregar à renda familiar, aproximadamente, R$ 543,00 mensais (durante 12 meses) ou elevar a renda per capta familiar dos atuais R$ 200,00/mês para R$ 337,00/mês um aumento de quase 69%. Isso considerando que uma família é composta de 04 pessoas e tem capacidade para cultivar até 10 hectares de pinhão manso sem prejuízo das outras atividades. Assim, o valor pago na mão de obra, inclusa nos custos operacionais de manejo da cultura, ficaria na própria propriedade: agregada à renda familiar.
Fazendo um amálgama de todos os fatores citados acima e associarmos a vários outros favoráveis à região, tais como: localização geográfica estratégica em relação aos grandes mercados; opção da matriz energética brasileira por energia limpa; considerando que a região concentra uma das maiores populações de agricultores familiares do mundo, com alta incidência de solo em processo de degradação – 89%, segundo o IMAZON, pode-se afirmar que essas análises indicam que o cultivo do pinhão manso, para esses agricultores, apresentam um custo de oportunidade altamente atrativo em compensação à baixa lucratividade apresentada inicialmente na análise financeira.
Questões levantadas: Participem!
Prezados leitores, a abordagem feita neste artigo é sustentável; é convincente ou carece de outras considerações? / Você indicaria o cultivo do pinhão manso aos agricultores familiares abordados neste artigo? Porque?
Desejamos, por gentileza, ouvir suas opiniões com vistas a aprimorarmos nossos conhecimento e enriquecer nosso blog com informações.
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Nota:
O aproveitamento das linhas de cultivo do pinhão manso para o plantio de outras culturas  é um meio de redução dos custos de produção e conservação do solo com melhoria da sua estrutura e prevenção da erosão. Dependendo da espécie consorciada, outros benefícios podem ser sentidos: por exemplo, o caso do girassol que lança raízes profundas e entre outras características, possui a capacidade de trazer o potássio lixiviado para a superfície devolvendo ao solo na forma de resíduo orgânico da safra.  

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