O uso do próprio óleo de pinhão manso como
combustível em pequenas comunidades rurais é uma alternativa prática, viável e
sustentável que pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida de
famílias de pequenos agricultores e agregar outros benefícios sociais,
ambientais e econômicos no campo.
Caros
leitores, neste artigo discutiremos algumas razões que justificam o uso do óleo
vegetal diretamente no tanque de combustível. No artigo anterior sobre perspectivas do uso do óleo de pinhão manso in natura direto no motor descrevemos que já existem tecnologias apropriadas para uso do próprio óleo
vegetal como combustível, sem a necessidade de transformações químicas
(biodiesel, por exemplo).
O
óleo vegetal é obtido pelas plantas via fotossíntese. A planta tem a capacidade
de transformar a energia solar (fonte mais pura e abundante na natureza) e
armazená-la na forma de óleo vegetal. Este é um produto energético natural e
constitui uma das formas mais densa (alta concentração energética) e prática de
armazenar e transportar energia convertida via fotossíntese e que apresenta um
balaço energético positivo superior em relação a outros combustíveis. É um biocombustível seguro no transporte, não
é explosivo ou inflamável, não emite gases tóxicos ou cancerígenos, não é nocivo
ao solo, água e seres vivos; em caso de vazamentos acidentais, ou seja, não é
agressivo ao meio ambiente ou ao pessoal que o manipula. Se adequadamente
processado, pode ser armazenado por longo período de tempo sem perda de suas
características. Normalmente o óleo vegetal é armazenado nas sementes ou grãos
dos vegetais.
O
óleo vegetal é extraído da semente por meio de um processo físico simples que
não requer grandes capacitações tecnológicas, ou grandes investimentos em
equipamentos e não requer o fornecimento de insumos adicionais ao processo – no
caso da extração por prensagem: diferente do processo de produção do biodiesel.
Para tanto a própria natureza das plantas captam a energia solar (fonte de
energia limpa e abundantemente disponível no planeta), via fotossíntese. O
custo da obtenção dessa energia é a produção agrícola e os processos de
prensagem. Assim uma comunidade rural isolada pode dominar todo o processo de
obtenção do óleo vegetal sem grandes dificuldades.
A
simplicidade do cultivo e o processo do óleo vegetal permite ser realizado de
maneira descentralizada tanto em grande como em pequena escala indicando sua
adoção por pequenas comunidades rurais para suprir suas necessidades de fontes
de energia e combustíveis: permitindo elevar o nível da qualidade de vida das
mesmas.
O
óleo vegetal é um biocombustível que permite alta eficiência energética pois possibilita
maximizar o aproveitamento do seu conteúdo energético com o mínimo de consumo
de sua energia intrínseca no processo de obtenção. Seu alto conteúdo energético associado ao baixo
consumo de energia no processo de cultivo e obtenção do óleo aliado ao seu
consumo no próprio local de origem reduz vários custos agregado (dentre eles as
transformações químicas e o transporte)
favorecendo um balanço energético positivo superior em relação a outros
biocombustíveis.
O
balanço energético é o parâmetro mais adequado para definir a viabilidade
técnica de qualquer programa bioenergético. Este estabelece a relação entre o
total de energia contida no biocombustível e o total de energia (geralmente
fóssil) investida em todo o processo de produção do biocombustível, incluindo o
processo agrícola e industrial.
O
balanço energético do óleo vegetal é calculado tomando-se por base a quantidade
de energia consumida na obtenção (energia gasta na produção agrícola, logística
e prensagem) e deduzindo do seu conteúdo energético, com grandeza expressa em
Jaules/kg – J/kg.
Para
os cálculos do balanço energético vamos tomar por base o óleo do pinhão manso
como descrito no artigo anterior valor comercial energético do pinhão manso,
onde demonstramos o seu conteúdo energético.
O
conteúdo energético do óleo de pinhão manso é de 15,4 MJ/Kg (extração com
prensa de alta eficiência) e o custo da produção agrícola e prensagem de óleo
vegetal consome cerca de 15% da sua energia bruta total.
Portanto,
o óleo de pinhão manso apresenta um balanço energético positivo de cerca de
13,09 MJ/Kg. Fazendo uma analogia com o biodiesel este apresenta um balanço
energético bem menor uma vez que para produzi-lo exigi-se um consumo maior de
energia na transformação química do óleo em biodiesel. Considerando que, no
Brasil, o modelo de produção e uso do biodiesel é centralizador, os custos com
logística reduzem ainda mais esse balanço representando, além de prejuízos econômicos,
também ambientais; uma vez que há significativo desperdício de energia para a
sustentação desse modelo.
Assim
sendo, a eficiência energética apresenta-se mais favorável ao uso do óleo
vegetal in natura como biocombustível em relação ao biodiesel.
Se
a estes fatores adicionarmos a descentralização da produção, a praticidade na
obtenção do óleo e uso deste como
biocombustível, os benefícios sócios ambientais e econômicos são ainda mais
expressivos; sugerindo sua indicação e viabilidade para pequenas comunidades
rurais.
Desde
o século passado, já existem equipamentos especialmente desenvolvidos e
adaptáveis aos veículos equipados com motores diesel (especialmente os mais
modernos com bicos injetores tipo agulha) que permitem receber e queimar o óleo
vegetal natural como combustível sem prejuízos para os componentes internos do
motor. Na Alemanha, em 2008, a frota de veículos convertidos para óleo vegetal
já somavam 20.000 unidades.
Além
do mais, os motores a diesel apresentam um rendimento energético (conversão em
energia térmica) – de 40 a 42% – superiores aos à álcool – de 32 a 34% – e os à
gasolina – de 28 a 30%.
Outros fatores
favoráveis ao uso do óleo vegetal diretamente no motor de combustão interna.
-
os óleos vegetais apresentam características semelhantes às do óleo diesel,
podendo, em caso especial, serem queimados em motores de ciclo diesel sem
prejuízos para os componentes internos do motor;
-
a queima do óleo vegetal não emite enxofre e o balanço de emissão de gases de
efeito estufa é altamente positiva, sobretudo em se tratando da produção,
consumo e aproveitamento dos resíduos na própria região produtiva, nos casos de
adoção de um modelo energético descentralizado em pequenas comunidades rurais;
Vantagens
relacionadas ao cultivo das oleaginosas já citados em artigos anteriores, tais
como:
-
combate a erosão;
-
recuperação de solos degradados;
-
controle e manejo da água no solo;
-
manejo de pastagens;
-
consórcio com outras culturas e atividades rurais;
-
fixação de nitrogênio no solo;
-
fixação do homem no campo com renda extra e otimização da mão de obra familiar;
-
diversificação da produção rural;
-
segurança alimentar seja na própria alimentação humana ou na forma de proteína
animal dependendo do uso do resíduo da extração do óleo;
-
entre outros.
Mais
informações sugerimos consultar o livro: A FONTE ALTERNATIVA; Óleo vegetal
natural do Engº Agrônomo RICHARD SEIDEL
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